9º Encontro por Memória e Justiça do Norte e Nordeste: nossos passos vêm de longe
- Jana Sá
- 10 de abr.
- 2 min de leitura

O tempo passa, mas há dores que permanecem. Às vezes silenciadas, outras tantas enfrentadas. E, por vezes, coletivamente transformadas em luta. É esse movimento de resistência, reconstrução e memória viva que nos reúne a partir desta quinta-feira (10) no 9º Encontro de Comitês e Comissões de Memória, Verdade e Justiça do Norte e Nordeste do Brasil, no Centro de Comunicação, Turismo e Artes da Universidade Federal da Paraíba (CCTA/UFPB), em João Pessoa.
No mês em que o golpe de 1964 completa 61 anos, ocupar uma universidade pública com tantas vozes comprometidas com a democracia, com a justiça de transição e com o direito à memória é um ato de afirmação histórica. Mais do que um evento, este encontro é reencontro: com os que resistiram, com os que tombaram, com os que herdaram a missão de seguir denunciando, cobrando e reconstruindo.
Os debates que atravessam esses quatro dias não dizem respeito apenas ao passado. Falam de um Brasil que ainda não superou a impunidade dos crimes da ditadura militar, que ainda carrega em suas instituições os resquícios de uma lógica autoritária, e que vê o fascismo retomar o fôlego. A memória é, por isso, também um campo de disputa política.
Serão dias de escuta e construção, com mesas e grupos de trabalho que tocam em temas urgentes: a reinterpretação da Lei da Anistia, os caminhos para as reparações coletivas, a urgência de uma educação voltada para os direitos humanos, a força dos familiares como agentes de justiça, a importância da comunicação como instrumento de mobilização social. Todos esses debates se entrelaçam em um Brasil que ainda não fez o luto de seus desaparecidos e que não reconheceu de forma ampla e justa as violações cometidas pelo Estado.
É profundamente simbólico que homenageemos Elizabeth Teixeira, presença viva da resistência camponesa, mulher nordestina que desafiou a violência do latifúndio e do Estado, mantendo a luta pela reforma agrária acesa mesmo diante da perda brutal de João Pedro. Sua presença neste encontro é mais que uma homenagem: é uma convocação.
Como filha de dois militantes perseguidos pela ditadura, a história que carrego é também a de muitos e muitas. Estamos falando de camponeses, indígenas, negros e negras, operários, estudantes, militantes de todas as frentes que ousaram lutar por um país mais justo — e pagaram caro por isso. Ainda esperamos pelos corpos. Ainda esperamos por justiça. Ainda exigimos que o Estado reconheça sua dívida.
Estar neste encontro, ao lado de tantas vozes comprometidas com a democracia e a dignidade humana, me emociona e fortalece. Seguimos, porque ainda há muito o que fazer. E porque a memória, quando compartilhada e politizada, se transforma em trincheira.
A ditadura não acabou. Mas nós também não.



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