Estudantes mortos pela ditadura serão diplomados pela UFRN em dezembro
- Jana Sá
- 7 de set. de 2024
- 3 min de leitura

Resgatar trajetórias, contribuir para a reparação de injustiças, manter a memória coletiva e afirmar a efetivação dos direitos humanos na sociedade brasileira. É com este objetivo que a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) vai realizar no próximo mês de dezembro a diplomação dos estudantes Emmanuel Bezerra e José Silton Pinheiro que foram mortos durante a ditadura militar. A data para realização, quando se celebra internacionalmente o Dia dos Direitos Humanos, foi tema de reunião do Comitê Estadual de Memória, Verdade e Justiça do Rio Grande do Norte (CEV-RN) com o reitor da instituição, José Daniel Diniz. A discussão aconteceu no último dia 3 de setembro, no gabinete da reitoria.
“Esta é uma ação fundamental no avanço que precisamos promover em direção à plena realização da Justiça de Transição. É gratificante ver que a UFRN não se furtará a enfrentar as injustiças, a falta de democracia e a desigualdade social, demonstrando um firme compromisso com os direitos humanos. A diplomação de Emmanuel Bezerra e José Silton Pinheiro, em um ato de reparação histórica, reforça a importância de manter viva a memória coletiva e garantir que as lutas por memória, verdade e justiça sejam reconhecidas”, ressaltou a presidenta do CEV, Jana Sá.
A iniciativa faz parte de uma solicitação feita em abril deste ano por um grupo de estudantes e mais de 200 professores da UFRN, além de ativistas pelos Direitos Humanos que protocolaram na Reitoria da UFRN um pedido de diplomação post mortem a Emmanuel Bezerra, potiguar morto pela ditadura em 1973, aos 26 anos, e José Silton Pinheiro, morto em 1972 por ação do estado, aos 23 anos de idade. Bezerra era aluno do curso de Ciências Sociais e teve seus estudos interrompidos em 1968 após ser preso. Pinheiro cursava Pedagogia.

“No ano em que se completam 60 anos do golpe militar fascista no nosso país, exigir a efetivação da memória, da verdade e da justiça para os verdadeiros heróis do nosso povo nunca foi tão urgente, principalmente porque o fascismo ainda se organiza nas cidades brasileiras. Deve estar na ordem do dia, por isso foi uma grande vitória termos conseguido uma sinalização de que a diplomação pós mortem dos estudantes Emmanuel Bezerra e José Silton pinheiro acontecerá esse ano. Pra além de um ato simbólico, isso representa que a memória sobre a história do nosso país não pode se perder, sobretudo a história contada pelo lado das lutadoras e lutadores do povo brasileiro, que deram a sua vida para derrubar a ditadura e construir o socialismo”, destacou a estudante de psicologia da UFRN, Ana Beatriz de Sá, militante da Unidade Popular que integra o coletivo Nacional de Filhos e Netos por Memória, Verdade e Justiça. Ela é neta do potiguar Glênio Sá, guerrilheiro do Araguaia que foi morto em circunstâncias não esclarecidas ainda pelo Estado brasileiro.
Além da diplomação, a reunião do CEV-RN com a UFRN buscou caminhos para efetivação das recomendações feitas pela Comissão da Verdade da UFRN. Foram abordadas, ainda, diversas pautas para a colaboração entre as instituições.
“Discutimos pautas muito importantes, pois esse é um tema de grande relevância para a nossa universidade, que já teve sua própria Comissão da Verdade, a qual produziu um relatório riquíssimo. Estamos empenhados em cumprir as recomendações feitas por essa comissão”, avaliou o reitor Diniz.
Para o secretário do CEV, Juan Almeida, que integrou a Comissão da Verdade da UFRN, a reunião “foi muito produtiva. O professor escutou atentamente os nossos pedidos relativos à tarefa de investigação do Comitê Estadual de Memória, Verdade e Justiça do Rio Grande do Norte e, sobretudo, demonstrou seu compromisso em efetivar essas recomendações, em fazer as homenagens aos estudantes perseguidos aqui e tratar o assunto com seriedade, compromisso e zelo, como se espera de uma administração universitária séria e comprometida com os direitos humanos.”



Comentários